VULNERABILIDADES CONTEMPORÂNEAS

Autores

  • Miguel Ângelo Montagner
  • Maria Inez Montagner

Resumo

É com um misto de euforia e orgulho, e porque não dizer, com a sensação de realização, que apresentamos esta coletânea de textos neste livro. Um conjunto que representa a variedade de pesquisas e ensaios, todos frutos de quase três anos de esforços de todos os envolvidos na construção do Observatório de Saúde de Populações em Vulnerabilida- de - ObVul. Este Observatório almejou construir um espaço virtual que refletisse um conjunto de acadêmicos, pesquisadores, pós-graduandos, alunos, professores, profissionais em saúde e outros, interessados na questão da vulnerabilidade em todas as vertentes, na sociedade brasileira e mesmo em outras. Cumprida esta etapa, conseguiu-se congregar uma rede significativa de professores e pesquisadores de várias instituições, universitárias ou acadêmicas. Por meio de oficinas e seminários, realizados no período, obtivemos um rol de temas sobre os quais nos debruçamos sistematicamente: população negra, LGBTQ, portadores de doenças raras, adolescentes, refugiados e tantos outros. Com esta constatação, justifica-se este livro. Pretendemos reunir todos os trabalhos, seja em estado avançado de análise, seja outros mais ensaístas e que procuram tatear com mais cuidado o tema escolhido. Os autores, de mesmo modo, valsam de pesquisadores renomados e com vasta experiências com o assunto abordado a jovens graduandos em cursos da área da saúde, fazendo passos elegantes por formados, pós-graduandos e profissionais não estritamente acadêmicos. Tivemos a grande honra de apresentar um trabalho de um pesquisador que atua na França e Berlim, mostrando aspectos da saúde com paralelos com o sistema brasileiro. Quanto ao fulcro do livro, ele gira em torno da vulnerabilidade, conceito omnibus na sociedade atual, mas geralmente pouco definido ou explicativo, ao ser usado como uma entidade mágica aplicada a indivíduos, grupos, instituições, estratos sociais e governos. No nosso caso, procuramos ser os mais rigorosos possível, empregando o termo dentro de uma conceitualização calcada e oriunda da obra de Pierre Bourdieu, mas com pequenas nuances teóricas. Portanto, vulnerabilidade estrutural ou genética para nós significa “uma situação definida historicamente, cuja origem concreta dentro de um determinado campo social é reconhecida em termos simbólicos e relacionais por grupos ou estratos da sociedade, reconhecimento este remetido ao patamar coletivo, supra individual” (MONTAGNER; MONTAGNER, 2018, p. 33). A origem dessa vulnerabilidade (gênese histórica) representa a trajetória daquele grupo dentro da sociedade em um período histórico. Decalca seus caminhos históricos e as determinações de força que moldaram o grupo dentro do campo social, conformando uma situação específica de vulnerabilidade (estrutural). Esta vulnerabilidade atinge a quase todos os membros do grupo, direta ou indiretamente, como fato social durkheimiano, conduzindo-os à estigmatização como pessoas. Uma maneira lógica e epistemológica de abordar a vulnerabilidade estrutural ou genética é perseguir a ausência dos capitais sociais - na lógica de Pierre Bourdieu - mais frequentes, comuns e significativos, tais como o capital econômico, social, cultural, político, indicadores concretos da realidade simbólica e de classe deteriorada. Com todos estes elementos, construímos em conjunto este livro, que esperamos proporcionar um pontilhado significante, cuja ligação possa estabelecer um perfil aproximado dos aspectos mais prementes que exprimem a vulnerabilidade social contemporânea. Abre-se o tomo com artigos mais gerais, com temas mais teóricos e de escopo mais amplo. Partimos do caso francês, e a maneira como o sistema gaulês compôs e engendrou uma maneira de “categorizar” a pobreza dos imigrantes de forma a atender a biopolítica - construída no período – do Estado francês. Passamos então para um contexto do século XXI e a forma como a sociedade de risco lida com os riscos que ela mesmo cria, como os antidepressivos; e por fim, uma análise mais clássica do trabalho humano nas fímbrias dos sistema produtivo, como esclarecedor da nossa estratificação social, aqui aplicada ao mercado de trabalho e não diretamente ao sistema de saúde.                Em seguida entramos na seção relacionada a doenças raras que afetam grupos específicos, ainda que importantíssimos e por vezes negligenciadas por sua “pouca” frequência estatística aos olhos das políticas públicas: ELA, Hemofilia e doenças raras em geral. Em continuidade, passamos a parcela substantiva da sociedade brasileira, amalgamada no conceito de raça negra. Voltam-se as pesquisas às populações portadoras de doença falciforme, mortalidade materna em mulheres negras, e o tema do ser negro no Brasil. Por fim, os objetos de pesquisa se apresentam de forma refletidas em questões ligadas a grupos representativos como a população LGBTQ e sua inserção na obtenção do cuidado em saúde, os adolescentes em sua relação com a gravidez, pessoas sem capacidade (autonomia) para decidir e sua relação com o direito, o assédio sexual público nos transportes e por fim, a relação entre a fome e as formas de alimentação no Brasil. Não obstante, nem todos as conclusões ou opiniões expressas pelos pesquisadores em seus trabalhos refletem literalmente os princípios do Observatório. Agradecemos a todos que nos acompanharam, estimularam e partilharam os nossos esforços na construção deste Observatório e esperamos que este trabalho reflita nosso carinho, esperanças e nossa luta por uma sociedade obscenamente plena e luxuriosamente abundante de luz.

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Publicado

2019-04-10

Como Citar

Montagner, M. Ângelo ., & Montagner, M. I. . (2019). VULNERABILIDADES CONTEMPORÂNEAS. Portal De Livros Abertos Da Editora JRG, 3(3), 304. Recuperado de http://revistajrg.com/index.php/portaljrg/article/view/162