PROFISSIONALIZAÇÃO, FORMAÇÃO E SABERES DOCENTES: O DESAFIO DA ESCOLHA DOS LIVROS DIDÁTICOS PELOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA DOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Resumo

Foi no misturar das emoções que me vi na escrita desse prefácio. Marcos foi meu aluno, na graduação e na pós-graduação. Nessa hora comecei a lembrar das perguntas inquisidoras, o olhar atento às explicações e o acompanhar, como se não quisesse perder, nem um centímetro, os debates e discussões.

Marcos, como não é comum em cursos de licenciatura da área de ciências exatas, sempre se colocou do lado da docência. Parece estranho esse movimento, mas a escolha pela licenciatura não é uma condição para a escolha da docência.

Este livro, resultado de uma investigação sobre a profissionalização, no âmbito de um programa de educação em ensino de ciências e matemática, no agreste pernambucano, nos emociona. Não porque concordemos com as ideias, ou fazemos parte da mesma episteme aqui defendida. Mas, pela trajetória desse estudante, que aproveitou a oportunidade de um governo inclusivo e se viu e se vai fazendo dentro da escolarização superior, superando as barreiras, encontrando os limites e esperançando, como bem salienta sua orientadora - na doçura que a caracteriza, a querer uma outra história, a constituir-se em outra história.

O estudo da profissionalização aqui descrito, especificamente focando na questão dos saberes docentes, e nesse sentido, seguindo a linha argumentativa abordada, considera que os saberes docentes tornam-se necessários ao professor, pois implicam o domínio da disciplina e a forma de ensiná-la, assim como a seleção dos conteúdos a serem ensinados, o desenvolvimento de estratégias, entre outros, dessa forma, objetiva analisar os saberes que os docentes de matemática mobilizaram para a escolha dos Livros Didáticos – no caso do estudo o PNLD 2017.

Como afirmei em outra ocasião, os estudos sobre a profissão docente têm fomentado o debate nas últimas décadas, de modo a demonstrar que a formação requerida para o professor ultrapassa a atividade pedagógica de sala de aula, quer centrada nos conteúdos científicos, quer nos aspectos didáticos que enfatizam o fazer pelo fazer, exigindo uma formação pedagógica inicial e continuada mais sólida e contextualizada que dê conta das dimensões epistemológica e cultural, técnico-profissional e sociopolítica articuladas (CUNHA, 20161)

Nesse campo de estudos e disputas, os estudos sobre os saberes docentes trazem muitas posições. Há os que defendem, os que estabelecem a critica e entre estes, gostaria de acrescentar mais uma. Sobre as pesquisas que envolvem saberes docentes, alguns estudos, apontam que estes “aparecem” no contexto dos EUA, especialmente em meados da década de 1980. Dá-se então, uma falsa impressão que “de repente”, alguém resolve estudar sobre os saberes dos professores, e essa temática “de repente” torna-se relevante.

O que os trabalhos não contam é que esta temática só se torna relevante após os relatórios apresentados pelo Grupo Holmes (19862) e pelo Carnegie Task force on Teaching as a profession (1986). Segundo se justificam?

O foco no momento era o descontentamento geral com a o referido Relatório do Grupo Holmes: “Paradoxalmente, as professoras e professores são alvo das maiores críticas, mas apontados como o maior esperança para as reformas” (THE HOLMES GROUP, 1986, p.33). Por que esses relatórios? O que dizem? Comeducacional americana e nesse caso, o ataque ao que considerou, a época, a má formação docente. Como afirma Macedo, 2017, p.540 “os medos e fantasias de uma categoria profissional atormentada pelo discurso do fracasso.”

Mas o que se pretende com isso? Por que construir um estudo sobre saberes de alguém que se diz em fracasso acerca de seu ofício? Penso, assim como Macedo (20174) que a questão central que envolve uma discussão sobre o currículo com foco nos saberes, é a expulsão do não controlável da educação.

Outros autores ingressam nesse campo como Schon, com os conceitos de saber prático e prática reflexiva e Zeichner com profissional reflexivo. Shuman, cujos estudos ficaram conhecidos como Knowlwledge base, comportamento eficaz do professor, que influenciou alguns currículos reformados na década de 1990, entre alguns dos estudiosos da temática.

Os saberes docentes, marcam a mensuração das performances, não apenas diante do que é considerado possível, mas aquilo que se almeja como desejável. A busca pela precisão, demonstração, resultado e controle o que se justifica na avaliação, na verdade exame, e de preferência em larga escala, onde não há espaço para o surgimento do inesperado (Macedo, 2017). Dessa forma, a suposta participação docente assume a forma de responsabilização por um projeto que já está traçado de antemão: um projeto de reconhecimento, em que não há espaço para o imponderável. (Macedo, 2017).

Quero acrescentar, no entanto, a beleza desse trabalho no que concerne a metodologia e análise dos resultados, a seriedade com que tratou dos temas e a forma objetiva e ao mesmo tempo minuciosa em que apresentou a análise.

Concluo esse prefácio parabenizando aos autores, Marcos e Tânia, desejando que muitos trabalhos se debrucem sobre esse, e novas perspectivas sejam investigadas, ocasionando novas perguntas. Sim, novas perguntas. Afinal, são as perguntas que nos movem na pesquisa, não as respostas.

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