A cozinha como espaço do sagrado no culto de Òrìṣá: notas introdutórias
DOI:
https://doi.org/10.55892/jrg.v8i19.2358Palavras-chave:
Culto de Òrìṣá, Oferenda Alimentar, Ancestralidade, Cosmovisão IorubáResumo
Este artigo propõe uma reflexão sobre o papel da cozinha no culto de Òrìṣá como território do sagrado, no qual os alimentos não apenas nutrem o corpo, mas também servem como veículos de comunicação entre o mundo material (ayé) e o espiritual (òrùn). A partir de uma abordagem qualitativa, de natureza exploratória e com base no método da observação participante (Mónico et al., 2018), o estudo incorpora uma perspectiva autoetnográfica (Balbina e Medeiros, 2021), na medida em que os autores são praticantes iniciados no culto tradicional e registram os saberes a partir da vivência e da escuta ritual. O referencial teórico mobiliza autores como Juana Elbein dos Santos (2012), Pierre Verger (2023), Jacob Olupona (2011), Roger Bastide (1961) e Claude Lévi-Strauss (1976), que sustentam a compreensão da alimentação como prática litúrgica, simbólica e comunitária. Destacam-se no texto elementos como a importância do cargo de Ìyábase nas casas de culto, a comensalidade sagrada, os interditos alimentares (Èèwọ̀), os itan e versos dos odù Ifá que vinculam os alimentos às histórias míticas e às escolhas votivas dos Òrìṣà. Demonstra-se como o preparo, a consagração e a partilha de alimentos atualizam pactos ancestrais em uma lógica de tempo circular, fortalecendo vínculos entre indivíduo, comunidade e divindades. A pesquisa também discute o gesto alimentar como ato de hospitalidade radical, que acolhe o sagrado no cotidiano. Ao final, conclui-se que a cozinha tradicional é um lócus de saber ancestral que opera tanto na dimensão espiritual quanto na organização ética e social da vida.
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