A linguagem neutra na administração pública: uma análise à luz do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana e da impessoalidade
DOI:
https://doi.org/10.55892/jrg.v8i19.2768Palavras-chave:
Linguagem neutra, Administração Pública, Dignidade da pessoa humana, Impessoalidade, Inclusão linguísticaResumo
O presente estudo analisa o uso da linguagem neutra na Administração Pública brasileira à luz das atuais discussões sobre diversidade de gênero e das recentes restrições normativas impostas pela Lei nº 15.263/2025, que proibiu a utilização de “novas formas de flexão de gênero e número” em atos e comunicações oficiais. A pesquisa investiga até que ponto práticas linguísticas inclusivas, voltadas ao reconhecimento de pessoas não binárias, dialogam ou entram em tensão com os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da impessoalidade, bem como com a gramática normativa que orienta a comunicação estatal. O objetivo central consiste em examinar a compatibilidade entre esses elementos e compreender os limites jurídicos e administrativos da adoção de estratégias de inclusão linguística no setor público. A metodologia adotada é qualitativa, de caráter exploratório, fundamentada em revisão bibliográfica, análise documental e estudo normativo e jurisprudencial. Os resultados evidenciam que, embora a dignidade da pessoa humana sustente a necessidade de práticas institucionais que respeitem identidades de gênero, a impessoalidade e a gramática normativa são utilizadas como fundamentos para justificar modelos padronizados de comunicação, especialmente após a promulgação da nova lei. Conclui-se que o debate não se esgota com a proibição legal, pois permanecem abertas discussões sobre alternativas de linguagem inclusiva que não violem a padronização administrativa. O estudo reforça a importância de pesquisas futuras que avaliem os impactos comunicativos e sociais da norma recentemente aprovada.
Downloads
Referências
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. Tradução do russo de Paulo Bezerra. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010, p. 261-306.
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 62. ed. São Paulo: Loyola, 2020.
BARBOSA FILHO, Fábio Ramos; OTHERO, Gabriel de Ávila. Linguagem neutra: Língua e gênero em debate. São Paulo: Parábola, 2022.
BARROSO, Luis Roberto. O Controle de Constitucionalidade no Direito Brasileiro. 9. ed. Rio de Janeiro: Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555598995.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 39. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 16. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
BUTTURI JUNIOR, Atilio; CAMOZZATO, Nathalia Muller Camozzato; SILVA, Bianca Franchini da. Uma monstruosidade linguístico-moral: os discursos sobre a linguagem neutra nos projetos de lei do Brasil: the discourses on neutral language in Brazilian bills. Calidoscópio, v. 20, n. 1, p. 322350, 2022.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: https://www.planalto.gov.br.
CAVALCANTI, Ricardo Jorge de Sousa; LIMA, João Pedro Fradique de. Reflexões sobre a linguagem neutra: análise à luz da polêmica do Projeto de Lei n. 448/2020. Revista Caderno Pedagógico, v. 21, n. 10, 2024. DOI: 10.54033/cadpedv21n10-378.
COELHO, Marcus Vinícius Silva. Uma análise crítica discursiva dos projetos de lei estaduais e distrital sobre linguagem neutra no Brasil. 2024. Trabalho acadêmico – Universidade Estadual de Goiás, Câmpus Cora Coralina, Goiás, GO.
COSTA, Luiz Rosalvo; SANTOS, Raiane Almeida. Lutas sociais, políticas e ideologias linguísticas – o caso da linguagem neutra. Linha D’Água, São Paulo, v. 38, n. 1, p. 125-145, jan./abr. 2025. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2236-4242.v38i1p125-145.
FREITAG, R. M. K. Conflito de regras e dominância de gênero. In: BARBOSA FILHO, F. R.; OTHERO, G. A. (orgs.). Linguagem “neutra”. Língua e gênero em debate. São Paulo: Parábola, 2022, p. 53-71.
GRIZAFIS, Uiliam. CCJ da Câmara de São Paulo aprova projeto que proíbe linguagem neutra na administração pública: proposta do vereador Rubinho Nunes (União Brasil) segue para votação em plenário. Revista Oeste, São Paulo, 15 maio 2025.
LIRA, Mariana Chianca. A língua em disputa: uma análise da constitucionalidade das leis que proíbem a linguagem neutra no Brasil. 2025. Trabalho acadêmico – Universidade Federal de Sergipe, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Departamento de Direito, São Cristóvão.
MESSIAS, Leomiren. A linguagem neutra no mundo atual: uma análise sob a perspectiva dos direitos fundamentais da Constituição Federal Brasileira e entendimentos do STF. 19 nov. 2024. Jusbrasil.
NORONHA, Raquel. A regulação da linguagem neutra: uma análise discursiva de leis e projetos do Brasil e da Argentina. 04 nov. 2022.
OLIVEIRA, Matheus Vilanova. Língua non grata? Origem e motivações da linguagem neutra no Brasil e o empenho legislativo na Câmara dos Deputados contra sua oficialização: um olhar sociolinguístico. 2023. Trabalho acadêmico – Universidade de Brasília, Instituto de Letras, Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas, Brasília.
PAIVA, A. P.; Mabiala, J. M. C. Comunicação e inclusão: novos usos da língua para uma linguagem neutra. Revista Internacional em Língua Portuguesa, [S. l.], n. 43, p. 45–65, 2023.
ROHLING, Nívea; COSTA, Willian Goncalves da. A linguagem neutra no Legislativo brasileiro: tensionamentos entre forças centrípetas e centrífugas na língua. Caderno de Letras, Pelotas, n. 49, maio/ago. 2024.
SÁ, A. V. de. Análise semiótica do discurso sobre a linguagem neutra. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2022.
SIGNORINI, I.; LUCENA, M. P. Linguagem e economia política em ativismos no twitter sobre o uso de ‘linguagem neutra’. Revista da Abralin, v. 22, n. 1, p. 1-29, 2023.
SCHWARTZMANN, Matheus Nogueira. Língua, gênero e diversidade: o que tem a semiótica a ver com isso?. Estudos Semióticos, v. 18, n. 3, p. 258-278, 2022.
SCHWINDT, L. C. Sobre gênero neutro em português brasileiro e os limites do sistema linguístico. Revista da ABRALIN, v. 19, n. 1, p. 1 23, 2020. DOI: 10.25189/rabralin.v19i1.1709.
SILVA, Sidnay Fernandes dos Santos; CARVALHO, Lílian Pereira de; SANTOS, Guilherme Freitas dos. Da gramática normativa à linguística popular militante: um percurso da linguagem neutra. Porto das Letras, v. 7, n. 4, p. 141 159, 2021.
SOUZA, Vanessa Gonçalves Ribeiro. A evolução da administração pública brasileira: reforma gerencial, a nova gestão pública. 2019. Trabalho de conclusão de curso (Especialização em Gestão Pública Municipal) – Universidade de Brasília, Departamento de Administração, Anápolis, GO.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
ARK
Licença

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.





































