Todo dia uma questão, todo dia uma luta - A experiência emocionalmente vivida na criação e/ou acionamento de estratégias de permanência por estudantes negras lésbicas e bissexuais na UFMT
DOI:
https://doi.org/10.55892/jrg.v7i14.915Palavras-chave:
Educação superior, Permanência, Experiência emocionalmente vivida, Negras lésbicas, Negras bissexuaisResumo
As cotas raciais são políticas de ações afirmativas à curto prazo que visam corrigir desigualdades no ingresso na Educação Superior, o que implica na garantia da permanência. Assim, nosso objetivo é compreender as estratégias de permanência que estudantes negras lésbicas e bissexuais criam e/ou acionam no enfrentamento à estrutura racista, machista e homofóbica ainda vigente na Educação Superior brasileira afim de concluírem suas graduações, a partir da psicologia sócio-histórica, mais especificamente o conceito de experiência emocionalmente vivida. São utilizadas na análise as contribuições que o Estudo das Relações Raciais em interface com a Educação e a Psicologia já revelaram, do Feminismo Negro, bem como as importantes observações feitas no campo científico acerca da permanência na Educação Superior no contexto de democratização do acesso à educação superior e o conceito de experiência emocionalmente vivida cunhado por Vygotsky (1935). É uma pesquisa qualitativa de caráter bibliográfico e exploratório, na qual utilizamos a técnica de coleta de dados das entrevistas semiestruturadas, sendo que para chegar até as estudantes, usamos a amostragem em “bola de neve”. Ao final da análise do conteúdo, evidencia-se que as estudantes negras lésbicas e bissexuais criam e acionam diversas estratégias de permanência para conseguirem enfrentar a estrutura social marcada pelo racismo, machismo, lesbofobia, bifobia e elitismo que infelizmente também estão presentes no meio universitário. Foi observado também que há a necessidade de intervenções institucionais para mudar este cenário, pois, estes atravessamentos comprometem o desempenho acadêmico destas estudantes. As falas revelam que a não conclusão dos cursos nos quais estão matriculadas é produto do processo de exclusão e isolamento que elas sofrem ao longo da graduação, estes por sua vez advindos da marca do elitismo nas universidades, do epistemicídio que silencia mulheres negras por séculos, bem como das dificuldades enfrentadas para acessar programas de auxílios que lhes são de direito.
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